Nova startup brasileira: SaqJá permite retirada de dinheiro dentro de estabelecimentos comerciais

Operando já em 25 cidades, dois estados e utilizando as maquininhas de cartão para saque, a meta até 2022 é oferecer o serviço em um milhão de dispositivos

Imagine a seguinte situação: você precisa pagar em dinheiro por um produto ou serviço e percebe que, na carteira, só tem os cartões e, talvez, algumas moedinhas que esqueceu ali. Um pouco contrariado, se não muito, procura por um banco para fazer o saque. Em uma cidade com 5.485 postos e agências bancárias, como em São Paulo, parece não ser tão difícil assim resolver o problema acima, mas quando falamos em nível Brasil, o cenário muda completamente. E foi numa situação similar a essa, hipotética mas muito comum, que Leandro Fiuza teve a ideia em 2007 e, dez anos depois, criou a SaqJá.

O insight aconteceu quando precisava de dinheiro e o frentista do posto de gasolina em Belo Horizonte, onde morava, não o deixou passar um valor maior no cartão para receber a diferença em espécie. A justificativa foi que o serviço não era autorizado e só sobrou a opção de dirigir por 10 km para conseguir efetuar a operação em outro bairro. Foi então que Fiuza percebeu a demanda latente pelo serviço e, ainda que o município tivesse uma malha bancária considerável, a praticidade de sacar dinheiro em qualquer PoS (em inglês, Point of Sale, as famosas maquininhas de cartão de crédito) era real e independia da região.

Envolvido com grandes empresas e um networking que o levou a conhecer pessoas do meio financeiro, Leandro chegou às adquirentes, instituições que efetuam as transações por meio das PoS em 2019, quando conseguiu, enfim, abertura para apresentar o projeto. Foi com a Stone que a conversa avançou e, em janeiro de 2020, a companhia disponibilizou a nova função para algumas máquinas na cidade de São José do Rio Preto, local onde a SaqJá está alocado. Até o momento, são 25 cidades nos estados de São Paulo e Minas Gerais. 

Um plano e um mercado ambicioso

Com um investimento inicial de R$12 milhões para o lançamento da startup no mercado financeiro, Fiuza tem planos de rodar a SaqJá em 500 mil PoS e faturar R$ 5 milhões ainda este ano, valor que deve saltar para R$500 milhões até 2022, quando estará disponível em até um milhão de dispositivos. A projeção é bastante otimista pelo cenário que se apresenta atualmente: dados da Abecs -Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviço- revelou que em 2019 ocorreram 22,5 bilhões de transações que movimentaram R$1,84 trilhão, um crescimento de 18,7% em relação ao período anterior, o maior registrado em oito anos.

E se esse mercado vai muito bem e tem conquistado todo o território nacional, não é possível dizer o mesmo do sistema bancário. Cerca de 40% dos 5.570 municípios brasileiros não contam com uma agência segundo informações do Banco Central e 376 cidades ainda são desassistidas sem ponto de atendimento ou caixa eletrônico. Com custo alto de manutenção e perdendo terreno cada vez mais para outros meios de pagamentos digitais, os bancos têm sofrido suscetíveis baixas e em torno de 2.800 agências já fecharam as portas entre 2016 e 2019, aumentando na faixa dos 7% o índice de regiões sem nenhum serviço bancário. 

Ou seja, terreno para crescer em cidades pequenas e mais interioranas, a SaqJá tem de sobra. É bom para a população que, desamparada pelos gigantes do mercado financeiro, terá acesso mais fácil e rápido ao dinheiro em espécie, sem precisar ir para outras regiões sacar, e, com a moeda em mãos, tenderá a gastar localmente, estimulando a economia por meio do consumo em mercados e outros estabelecimentos comerciais. Muito bom para os pequenos, bom também para quem vive em cidades grandes que, além da maior disponibilidade do serviço, ainda sofrem com o medo de ir às agências. Alvo visado pela criminalidade, é comum o receio ao sair destes locais, temendo um assalto ou até um sequestro relâmpago. 

Se para a população são várias as vantagens, o lojista não fica atrás. Atraindo consumidores por meio desta facilidade, pode gerar mais fluxo de clientes dentro da loja, estimulando o consumo e ainda dando vazão ao dinheiro em espécie, que, um pouco mais na frente, demandará logística -e segurança- para ser depositado nos grandes bancos. E um bônus: ele também ganhará uma porcentagem do valor sacado pelo cliente, que será transferido em até um dia útil, tempo menor que as operadoras costumam realizar quando a compra é realizada por cartão de débito, que pode ocorrer em até três dias. 

SaqJá

Conectando demandas e oferecendo facilidades, a SaqJá ainda nasce com uma vantagem a tiracolo: favorecer a circulação de moeda em um país que sofre com essa demanda, principalmente entre a população das classes mais humildes que não tem tanto acesso aos dispositivos digitais e facilidades da digitalização de pagamentos. Hoje, no Brasil, o trânsito de moedas em território nacional corresponde apenas a 3,9% do produto interno bruto (PIB); se comparado a Índia e Japão, por exemplo, que atingem a marca de 9% e 21%, respectivamente, só prova que terreno muito fértil para crescer, a startup tem. 

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay