Enquanto COVID-19 tira vidas no mundo todo, ONU sugere caminho para evitar novas pandemias

Um novo estudo científico do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e do Instituto Internacional de Pesquisa Pecuária (ILRI) concluiu que, se os países não tomarem medidas drásticas para conter a disseminação de zoonoses, pandemias como a da COVID-19 serão mais comuns.

À medida que a população mundial se aproxima de 8 bilhões de pessoas, o desenvolvimento desenfreado coloca cada vez mais os seres humanos em contato com animais selvagens, o que facilita a disseminação dessas doenças entre as espécies.

Instituto Internacional de Pesquisa Pecuária (ILRI)

Profissionais de saúde em Madagascar testam cidadãos para a COVID-19. Foto: Banco Mundial/Henitsoa Rafalia

“Conforme exploramos áreas mais marginais, criamos mais oportunidades de transmissão”, explicou o professor de doenças infecciosas em animais da Universidade de Liverpool e co-autor pelo ILRI, Eric Fèvre. “A nossa pegada esta aumentando no mundo e, com ela, o risco de grandes epidemias e, eventualmente, de outra pandemia como a da COVID-19, é cada vez maior”.

Profissionais de saúde em Madagascar testam cidadãos para a COVID-19. Foto: Banco Mundial/Henitsoa Rafalia

Ebola, Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), vírus zika, HIV/AIDS, Febre do Nilo Ocidental e a recente COVID-19 são algumas das principais doenças emergentes nas últimas décadas.

Embora tenham surgido em diferentes partes do mundo, elas têm uma coisa em comum: são o que os cientistas chamam de “doenças zoonóticas”, ou seja, infecções transmitidas de animais para seres humanos, que podem deixar rastros de doenças e mortes por onde passam.

Um novo estudo científico do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e do Instituto Internacional de Pesquisa Pecuária (ILRI) concluiu que, se os países não tomarem medidas drásticas para conter a disseminação de zoonoses, surtos globais como o da COVID-19 serão mais comuns.

“As pessoas lembram da pandemia de gripe espanhola de 1918-19 e pensam que essas doenças acontecem apenas uma vez. Mas isso não é verdade. Se não restabelecermos o equilíbrio entre o mundo natural e o humano, elas se tornarão cada vez mais predominantes”, afirmou o diretor de Avaliações Científicas do PNUMA, Maarten Kappelle.

O estudo Prevenir a Próxima Pandemia – Doenças Zoonóticas e Como Quebrar a Cadeia de Transmissão, publicado no dia 6 de julho, descreve como 60% dos 1,4 mil micróbios conhecidos por infectar seres humanos se originaram em animais.

COVID-19

Enquanto doenças emergentes como a COVID-19 dominam as manchetes da imprensa mundial, doenças zoonóticas negligenciadas matam pelo menos 2 milhões de pessoas por ano, principalmente em países em desenvolvimento. Isto supera em mais de quatro vezes o número atual de mortes causadas pela COVID-19.

“As doenças zoonóticas, para mim, realmente se intensificam diante de fatores como pobreza e desigualdade”, disse a coautora do estudo e diretora para a Vida Selvagem do PNUMA, Doreen Robinson. “Essas doenças afetam desproporcionalmente as pessoas nos países menos desenvolvidos. Mas elas só se tornam um problema coletivo quando afetam a todos, como com a COVID-19″.

As doenças zoonóticas têm atormentado as sociedades desde o período neolítico e foram responsáveis ​​por algumas das pandemias mais mortais da história, como a peste bubônica no final da Idade Média e a pandemia de gripe espanhola no início do século 20.

À medida que a população mundial se aproxima de 8 bilhões de pessoas, o desenvolvimento desenfreado coloca cada vez mais os seres humanos em contato com animais selvagens, o que facilita a disseminação dessas doenças entre as espécies.

“Conforme exploramos áreas mais marginais, criamos mais oportunidades de transmissão”, explicou o professor de doenças infecciosas em animais da Universidade de Liverpool e co-autor pelo ILRI, Eric Fèvre. “A nossa pegada esta aumentando no mundo e, com ela, o risco de grandes epidemias e, eventualmente, de outra pandemia como a da COVID-19, é cada vez maior”.

O custo gerado pelas epidemias zoonóticas é alto. O Fundo Monetário Internacional estima que a COVID-19, isoladamente, irá contrair em 3% a economia global este ano, reduzindo a produtividade em 2021 em US$ 9 trilhões. Mesmo duas décadas antes dessa pandemia o Banco Mundial já havia estimado um custo direto de US$ 100 bilhões para as doenças zoonóticas.

De acordo com a principal autora do relatório, Delia Grace, que é epidemiologista veterinária do ILRI e professora de segurança alimentar do Instituto de Recursos Naturais do Reino Unido, a fim de evitar surtos futuros os países precisam de uma resposta coordenada para as doenças zoonóticas emergentes e embasada na ciência. “Os vírus não precisam de passaporte. Não é possível enfrentá-los isoladamente em cada país. Precisamos integrar nossas respostas trabalhando com a saúde humana, animal e ambiental para que elas sejam eficazes”, disse.

Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)

O PNUMA e o ILRI convocam governos a adotarem uma abordagem intersetorial e interdisciplinar chamada One Health (saúde unida, em português). Ela sugere que governos não apoiem somente os sistemas de saúde humana e animal, mas que enfrentem outros fatores facilitadores da transmissão de doenças entre as espécies – como a degradação ambiental e a maior demanda por carne.

Mais especificamente, incentiva governos a promoverem a agricultura sustentável, fortalecerem os padrões de segurança alimentar, monitorarem e aprimorarem os mercados tradicionais de alimentos, investirem em tecnologia para rastrear surtos e criem novas oportunidades de emprego para pessoas que comercializam animais silvestres.

Robinson também afirma que os governos precisam entender melhor como as doenças zoonóticas funcionam, pois isto poderia ajudar o mundo a evitar outra pandemia como a da COVID-19.

“Investir em pesquisas sobre zoonoses nos colocará à frente do jogo para prevenirmos outros tipos de lockdown global. Ainda teremos outros surtos. Os patógenos ainda serão transmitidos de animais para seres humanos e vice-versa. A questão é: até onde eles vão e qual impacto terão?”, complementa.

Fatos sobre doenças zoonóticas

As doenças zoonóticas (também conhecidas como zoonoses) são doenças causadas por patógenos transmitidos entre animais e seres humanos.

Exemplos de zoonoses incluem HIV-AIDS, Ebola, Doença de Lyme, Malária, Raiva e Febre do Nilo Ocidental, além da doença causada pelo novo coronavírus de 2019, a COVID-19.

Alguns animais selvagens (como os roedores, os morcegos, os animais carnívoros e os primatas) têm mais probabilidade de abrigar patógenos zoonóticos e os rebanhos são frequentemente uma ponte de transmissão de patógenos entre os animais e os hospedeiros humanos.

Nos países mais pobres, as zoonoses endêmicas negligenciadas associadas à pecuária causam mais de 2 milhões de mortes humanas por ano.

Para saber mais, leia a página de perguntas frequentes sobre zoonoses.

ONU