5 momentos em que a moda mostrou que também é política

Protestos contra regimes autoritários e a busca por maior diversidade entre as modelos estão entre as principais temáticas de tais marcas

De acordo com dados da Associação Brasileira de Indústria Têxtil (Abit), em 2018 a indústria da moda foi o segundo grupo que mais gerou emprego no país. Com uma produção de 8,9 bilhões de peças anualmente, o setor da cadeia têxtil e da confecção apresentaram um faturamento de 2,6 bilhões de dólares no ano.

Há quem ainda pense que a moda se resume a criar e exibir roupas que nunca seriam usadas fora dos desfile. Contudo, inúmeros atos políticos já ocorreram nas passarelas de todo o mundo. Confira abaixo os detalhes de alguns eventos que se tornaram históricos pelas críticas políticas que as roupas abordaram.

 

Revolução fashion antes da guilhotina

Como um dos nomes mais conhecidos da Revolução Francesa, Maria Antonieta tornou-se historicamente conhecida como a rainha que terminou guilhotinada pelos revolucionários populares em 1789. Famosa por manter gastos astronômicos com luxos, poucos sabem que a rainha também usou a moda para se impor politicamente na sociedade em que vivia.

Cuidadosa na seleção de roupas e acessórios, Maria Antonieta preferia aqueles itens não tão convencionais. Foi a partir de seus trajes que ela impactou a sociedade em que vivia – acostumada à imagem de soberanas francesa dóceis. Maria Antonieta quebrou protocolos da época, que destinavam apenas aos amantes dos reis a exibição de roupas luxuosas.

 

“O erro da ditadura foi torturar e não matar”

Em 2019, a estilista brasileira Aline Celi transformou a passarela da Berlin Fashion Week em palco de protesto contra Jair Bolsonaro. No desfile de sua grife na capital alemã, as modelos entraram na passarela carregando cartazes onde se lia frases preconceituosas ditas pelo atual presidente do Brasil.

Uma dessas frases, que apareceram em destaque no desfile de Celi, era: “ela não merece estuprada por ser feia”, em referência à fala dita por Bolsonaro em 2013 para a então deputada Maria do Rosário (PT-RS). Em 2019, a Justiça determinou ao atual presidente o pagamento de uma indenização de cerca de R$ 10 mil.

O episódio teve ampla repercussão nas mídias brasileiras. Outra frase exibida na passarela foi “O erro da ditadura foi torturar e não matar”. Outro manequim entrou vestindo uma roupa azul, segurando a placa com a frase dita por Damares Alves, atual ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos.

Nascida em Natal, no Rio Grande do Norte, e erradicada na Alemanha há dez anos, Aline Celi é famosa pelos desfiles que privilegiam o estilo minimalista e marcados por crítica social e política. É comum a estilista se pronunciar dizendo que moda não se trata apenas de glamour, mas também de política e economia.

Desfile de Zuzu Angel contra a ditadura

Em 1971, a estilista Zuleika de Souza Netto realizou um desfile-protesto na embaixada brasileira nos Estados Unidos pela memória de seu filho e contra a ditadura militar vigente no Brasil naquele momento.

Além de seu trabalho inovador no mundo da moda, ela ficou nacional e internacionalmente conhecida como Zuzu Angel, uma mãe que lutou durante anos para ter o direito de enterrar o próprio filho, Stuart Jones, militante de esquerda e estudante de economia.

Em 1971, Stuart foi torturado e morto pelo Centro de Informações da Aeronáutica (CISA) no aeroporto do Galeão, na capital carioca, e dado como desaparecido pelas autoridades brasileiras. Esse ano inaugurou uma longa batalha de Zuzu pela recuperação de corpo de seu filho, envolvendo os Estados Unidos, país de origem de seu ex-marido (e pai de Stuart)

Gravidas e gordas na News York Fashion Week

Em 2019, o desfile da marca Savage x Fenty ganhou as manchetes em todo o mundo por contar com a participação de duas modelos grávidas, o que conferiu à cantora Rihanna, dona da marca, o título de designer cool.

Já a grife Chromat realmente abraçou a diversidade e colocou em seu desfile seis modelos plus size. Sem economizar nos decotes, a marca inovou ao trazer essas modelos vestindo looks esportivos e trajes de banho. Uma celebração à diversidade de corpos “reais”.

Desfile de modelos transgêneros na SPFW

Em 2016, o estilista Ronaldo Fraga priorizou outra coisa na passarela da São Paulo Fashion Week (SPFW): as modelos. No casting, somente mulheres transgênero advindas de diferentes realidades sociais – desde donas-de-casa e bancárias até cabelereiras e prostitutas.

As profissões anteriores e a experiência como modelos não contaram tanto. O critério principal na escolha das modelos foi os desafios que enfrentaram para se tornarem as mulheres que eram.

Longe de se restringir a um desfile de moda, a proposta era sensibilizar o público colocando essas mulheres em (mais) um espaço socialmente interditado a esse grupo. O tema principal do desfile de Fraga foi “o primeiro vestido”.

Ao trazer visuais que remetiam à primeira vez que mulheres transexuais se vestem com vestidos femininos, o desfile contou um momento importante que demarca o começo da perda do medo de não ser aceita socialmente e da identificação pública de si mesma enquanto mulher transgênero.